Um número crescente de empresas do campo estão recorrendo à recuperação judicial (RJ) para reestruturar os passivos desde o ano passado, quando muitos produtores tiveram dificuldades para operar num cenário de alta taxa de juros, variação cambial em meio ao elevado endividamento e a falta de recomposição do preço das commodities. E os números, que já avançaram fortemente em 2024, devem continuar assim neste ano, segundo especialistas.
Dados da Serasa Experian contabilizam 1.272 solicitações de RJ do agronegócio em 2024, o que equivale à soma de três frentes: produtores rurais que atuam como pessoa física, produtores rurais pessoa jurídica e empresas com atuação relacionada ao setor. Em 2023, os pedidos totalizavam 534.
Já no primeiro apanhado deste ano, o total de empresas dos segmentos de insumos agrícolas, fertilizantes, defensivos, adubos e sementes que recorreram a esse instrumento legal avançou 50% nos últimos 12 meses encerrados em março, atingindo 42 empresas, segundo levantamento inédito da RGF Monitor para o Valor.
“Sim, temos uma tendência de alta nos pedidos de recuperação judicial no agronegócio, que deve continuar neste primeiro semestre de 2025, impulsionada pela combinação de fatores climáticos adversos nos anos anteriores, inadimplência em cadeia e retração do crédito a custo elevado”, afirma Rodrigo Gallegos, especialista em reestruturação e criador do Monitor.
Outro indicador que aponta para a continuidade da tendência de crescimento de recuperação judicial é a alta do índice de inadimplência do setor, que saiu de 6% há quase dois anos e atingiu 7,9% no primeiro trimestre de 2025. De acordo com o levantamento da Serasa, a elevação já era esperada e não chega a assustar.
“Vejo o aumento de 0,3% em relação ao último trimestre de 2024 como uma elevação sutil. No entanto, frente ao primeiro trimestre de 2024, na comparação ano a ano, o aumento é mais expressivo, de 0,9 ponto percentual”, observa Marcelo Pimenta, head de agronegócio da Serasa Experian. Ele explica que é preciso considerar que durante todo o ano de 2024, mesmo com políticas mais criteriosas de concessão de crédito e outras instabilidades que ocorreram no setor, a inadimplência não passou de 7%, de um total 1,4 milhão de financiamentos feitos.
Os dados englobam empresas de todos os portes e já começam a atingir, além dos pequenos produtores, empresas maiores, especialmente as localizadas no Mato Grosso e em Goiás.
Fonte: Valor Econômico