Por Graziella Valenti e Fernanda Pires
SÃO PAULO – A Odebrecht formalizou nesta segunda-feira aos investidores que a construtora OEC não vai pagar os juros de US$ 11,4 milhões, vencidos há 30 dias, de uma das emissões internacionais do grupo. Venceu hoje o prazo chamado “cura” para que a empresa honrasse o compromisso. Embora não admita com todas as letras em seu comunicado, o plano é reestruturar a integralidade dos títulos externos, que totalizam US$ 3 bilhões.
Em nota ao mercado, a intenção fica clara, pois a Odebrecht anuncia a contratação da Moelis & Company como assessor financeiro responsável pelo diálogo com os investidores desses papéis, da Cleary Gottlieb Steen & Hamilton e do E.Munhoz Advogados.
Os bônus foram emitidos pela Odebrecht Finance, mas são garantidos pelo fluxo de resultados da OEC. Eles respondem por, praticamente, toda a dívida da construtora. Há só mais US$ 150 milhões em dívidas bancárias.
Conforme o Valor antecipou na edição do dia 13, o plano é colocar os compromissos alinhados ao atual tamanho do negócio. Quando os recursos foram captados, a OEC era a maior operação de todo o grupo. Em 2013, a construtora tinha receita de US$ 15 bilhões e Ebitda da ordem de US$ 1,5 bilhão — no auge, pré-Operação Lava-Jato, empregava sozinha 110 mil dos 183 mil funcionários que o grupo chegou a ter. Neste ano, a receita deve ser de US$ 2,5 bilhões e o Ebitda, entre US$ 250 e US$ 300 milhões — o que significa uma alavancagem de quase 10 vezes.
Há quatro grandes fundos — Alliance Bernstein, Fidelity, BlackRock e Gramercy — já organizados para as conversas e que respondem por cerca de 40% do volume de todas as emissões. Esses investidores contrataram o Rotschild para a negociação da reorganização.
No mercado, os papéis já são negociados com grande desconto, em função da conhecida situação de encolhimento dos resultados e da carteira de projetos da OEC. Considerando o preço dos títulos mais líquidos, seria como se as emissões totalizassem perto de US$ 750 milhões.
Segundo apurou o Valor, idealmente, a Odebrecht planeja cortar o valor total dos compromissos e rever as condições de pagamento de juros, obtendo um possível período de carência. Nesse intervalo, os rendimentos não seriam pagos, mas seriam incorporados ao valor total da dívida a ser amortizada (acruados).
Considerando o montante total dos títulos, a OEC precisa pagar cerca de US$ 180 milhões em juros por ano. Atualmente, esse valor corresponde a mais da metade do Ebitda gerado pela construtora.
A reportagem do dia 13 apontava que o formato da reestruturação — mas, somente após a definição das condições entre as partes — deve ser uma recuperação extrajudicial. Nessa estrutura, com aprovação de detentores de 60% do volume total da dívida é possível redefinir, com homologação na Justiça, as condições de 100% dos papéis. A opção seria uma oferta de troca de papéis, mas na qual não há controle sobre a taxa de adesão – que quase nunca é integral.
Na nota, a empresa diz “é uma decisão em linha com as normas e práticas do mercado financeiro e ao mesmo tempo em que se busca a melhor posição para dar sustentabilidade e expandir os negócios”. Acrescenta que “a decisão tem por objetivo priorizar a aplicação dos recursos em caixa na atividade operacional e na conquista de novos contratos e inaugura uma nova etapa de sua retomada empresarial”, depois de tomar várias medidas que incluem conformidade (compliance) e governança corporativa.
A OEC está finalizando uma revisão de seu plano estratégico, agora com projeções para cinco anos (de 2019 a 2023) para dar suporte às negociações. A expectativa é que um reorganização deste porte e complexidade possa durar durante todo ano de 2019.
Isso sem contar eventuais investidores com perfil litigante que possam adquirir os papéis. É comum títulos de dívida de mercado atraírem investidores especializados em brigas de reestruturação quando seus preços alcançam patamares inferiores a 20% do valor de face da emissão — o que ocorreu recentemente.
Fonte: Valor Econômico