Notícias

Na Unigel, clima tenso na saída de CEO e plano de recuperação judicial na mesa

A mais recente troca de comando na Unigel, que caminha a passos largos para uma nova reestruturação de dívida, expôs a crise interna vivida pela petroquímica e alimentou as dúvidas quanto à capacidade da companhia de sair de fato da crise financeira que enfrenta há dois anos.

Sem recursos para concluir as obras da fábrica de ácido sulfúrico na Bahia, principal aposta dos acionistas para reerguer o negócio, a Unigel já tem um plano de recuperação judicial desenhado e, com a liminar que suspende execuções de dívidas por 60 dias, apenas “ganhou tempo”, segundo fontes.

A companhia informou nesta quarta-feira (20) a saída de Dario Gaeta de sua presidência e a escolha de Helena Ramos para assumir a posição interinamente, após decisão tomada na véspera pelo conselho de administração.

Gaeta estava à frente da Unigel há apenas oito meses e foi escalado para conduzir a reestruturação da petroquímica — o executivo ficou conhecido por sua atuação, em planos dessa natureza, em empresas familiares.

Segundo essas fontes, a saída repentina de Gaeta expôs o clima de tensão que vinha marcando as relações entre diretoria e conselho de administração e divergências que, desde o processo de recuperação extrajudicial, concluído em janeiro deste ano, têm contribuído para aprofundar a crise da Unigel.

O Valor apurou que ao menos duas possibilidades de aporte de até US$ 40 milhões na companhia, apresentadas recentemente, foram rechaçadas pelo conselho, bem como a proposta de contratação de uma consultoria especializada para conduzir uma nova negociação com credores.

Sem dinheiro novo e operando apenas com parte de suas fábricas, a Unigel não tem recursos para manter as operações industriais e, ao mesmo tempo, seguir investindo na nova fábrica de ácido sulfúrico. Com R$ 600 milhões já investidos, o projeto ainda precisa de R$ 80 milhões a R$ 100 milhões para entrar em operação.

De acordo com as fontes, a companhia tem esses recursos em caixa, mas não pode empregá-los para esta finalidade no momento, já que a pouca geração de caixa tem sido direcionada para manter o dia a dia, sem folgas.

Com a produção de acrílicos suspensa por causa do ciclo de baixa da petroquímica global, a Unigel tem rodado a apenas 60% da capacidade em estirenos, com margens 70% menores do que as registradas há um ano.

Nesse cenário, o pedido de tutela de urgência cautelar, que protegeu a empresa de cobranças até meados de outubro, preparou o terreno para o próximo passo, que é o pedido de recuperação judicial, segundo as fontes.

Entre o fim do ano passado e o início deste ano, a Unigel reestruturou cerca de R$ 4 bilhões em dívidas e recebeu US$ 100 milhões em recursos novos, em troca de 50% de suas ações, o que levou à diluição da família Slezynger, fundadora do grupo e até então dona de 100%.

O valor do aporte, contudo, foi insuficiente para garantir a execução do plano desenhado. A conta inicial indicava que seriam necessários entre US$ 150 milhões a US$ 200 milhões para que a Unigel se reerguesse, o que conferiria uma fatia de 80% da empresa aos credores — mas a família fundadora não aceitou ceder o controle naquele momento.

A Unigel adiou para o fim de agosto a divulgação dos resultados do segundo trimestre. Considerando os novos instrumentos de dívida emitidos, a dívida da companhia estaria hoje na casa de R$ 5 bilhões.

Procurada, a Unigel reiterou em nota que Helena Ramos assumirá interinamente o comando da companhia, acumulando as funções de CFO e diretora de relações com investidores. Dario Gaeta não se manifestou.

 

Fonte: Valor Econômico

Conteúdo relacionado