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Ex-OAS, Metha se desfaz de ativos e tenta se reerguer

Empreiteira baiana, envolvida na Lava-Jato, se dividiu em duas empresas após longa recuperação judicial com sócios diferentes

Após encerrar uma longa recuperação judicial, o antigo grupo OAS se dividiu em duas partes. A primeira delas é a Metha, holding 100% controlada pela família Mata Pires, financeiramente reestruturada, mas que ainda tenta se reerguer com novos negócios. A segunda parte é a Coesa, um novo grupo, com outros sócios, formado a partir dos ativos “dispensados” pela Metha – e que hoje está novamente em um processo de recuperação judicial, para renegociar uma dívida na ordem de R$ 4 bilhões.

Segundo a Metha, a Coesa – e sua nova recuperação judicial bilionária – não têm relação com o grupo, já que o controle acionário foi transferido. Ao todo, foram vendidas, em maio deste ano, cinco empresas, que incluem ativos imobiliários e projetos internacionais de engenharia. O grupo comprador é o Fundo de Investimentos em Participações (FIP) Zegama, gerido pela Reag. Os investidores do fundo são ex-executivos da OAS, e o valor da venda teria sido simbólico, afirmam fontes de mercado.

No entanto, essa desvinculação não é completa, porque parte das empresas vendidas à Coesa ainda são fiadoras das debêntures da Metha. O grupo nega que a nova recuperação judicial apresente algum risco para sua situação financeira, porque as garantias das dívidas poderão ser substituídas – ou seja, na pior das hipóteses, caso as empresas fiadoras vierem à falência, a Metha teria outras garantias para oferecer aos credores, segundo a empresa. O valor a ser pago não terá alteração.

Nesta semana, foram convocadas assembleias com os debenturistas para discutir o não vencimento antecipado das dívidas, em virtude da recuperação judicial da Coesa. Porém, as reuniões foram suspensas sem uma votação e remarcadas para fevereiro de 2022. A companhia afirma que o adiamento se deu em comum acordo com os credores.

A Metha encerrou sua recuperação judicial em março de 2020, após cinco anos. A dívida, que em 2015 era de R$ 10 bilhões, é hoje de R$ 1,4 bilhão – referente a duas emissões de debêntures, cujas garantias estão na Coesa. O prazo de pagamento é extenso, até 2041, e taxa de juros é de 1% ao ano. Há também o pagamento do acordo de leniência, de R$ 1,92 bilhão, que terá que ser quitado com a Controladoria Geral da União (CGU) até 2047.

Para o presidente da Metha, Josedir Barreto, o endividamento já foi equacionado e ajustado à realidade de caixa do grupo. O foco agora é voltar a conquistar projetos e retomar o crescimento.

O plano é seguir três linhas de expansão. A primeira é a KPE, nova construtora do grupo – e considerada seu “DNA”. A segunda é a Beyond, braço de saneamento básico, e a terceira é a E2, destinada à gestão de arenas esportivas. Outro direcionamento é focar apenas em projetos no Brasil.

“A antiga OAS tinha diversas companhias espalhadas pelo mundo, fez obras em mais de 20 países. No momento em que entendemos que alguns dos negócios não faziam sentido para o futuro, decidimos nos concentrar naquilo que é nossa grande geração de valor”, diz o executivo.

A construtora KPE tem um estoque de projetos contratados de R$ 1,8 bilhão, e a projeção é incorporar outros R$ 2,5 bilhões nos próximos meses, segundo ele. “Mais de 50% dos contratos já são com o setor privado e, com a concretização dos próximos acordos, a proporção vai logo passar a dois terços. É uma tendência”, diz.

Em saneamento, o plano é conquistar projetos menores. “Os maiores ativos estão sendo disputados por grandes grupos. Mas tem um resto de Brasil que vai precisar de investimento e que não necessariamente será o foco dos grandes. É aí que queremos atuar. Temos capacidade e atestação para operar”, afirma Barreto. Ele diz que há interesse em firmar parcerias para disputar os leilões.

A empresa também tenta recuperar um contrato de R$ 1,1 bilhão no setor, a Parceria Público Privada (PPP) de esgoto em Guarulhos (SP), que está em disputa. A prefeitura tentou anular o acordo e entregou a operação para a Sabesp. O caso foi levado a um tribunal arbitral, que já deu parecer a favor da Metha, conforme noticiado pelo Valor em fevereiro. Porém, ainda não há definição sobre o que acontecerá com o contrato. Questionado, Barreto diz apenas que “caso o grupo recupere a PPP, vamos certamente desenvolver com um parceiro”.

No caso da empresa de arenas, a E2, a ideia é também desenvolver novos projetos, além dos três em curso: a Arena do Grêmio (RS); a Arena Fonte Nova (BA); e a Arena das Dunas (RN). “Tem muitos ativos ainda não operados pelo setor privado, e outros em que podemos fazer plataformas conjuntas, unir forças”, diz ele.

Tal como no caso das demais empreiteiras envolvidas nos escândalos de corrupção da Lava Jato, o desafio de recuperação da Metha é grande. Em 2020, ano impactado pela pandemia, o grupo registrou uma receita líquida de R$ 422,7 milhões, e um prejuízo líquido atribuído aos sócios controladores de R$ 538 milhões.

Para Barreto, com a reestruturação, a geração de caixa do grupo está hoje adequada aos compromissos financeiros. A companhia ganhou prazo para se reerguer, e ainda há cerca de cinco anos até que as parcelas da dívida passem a ser mais elevadas, diz.

Fonte: Valor Econômico

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