A Ecovix, empresa da Engevix que controla o Estaleiro Rio Grande, encerrou sua recuperação judicial. A decisão judicial foi concedida na terça-feira (22) e publicada nesta quinta-feira (24) no Diário Oficial. Com isso, a companhia entra em uma nova etapa de retomada por meio de contratos de construção naval e de operação portuária, afirmou ao Valor o presidente da companhia, Robson Passos.
A empresa entrou em recuperação judicial em 2016, na esteira da Operação Lava Jato e da crise do setor de construção naval, após o fim dos incentivos do governo federal à indústria nacional. A dívida da companhia somava R$ 8 bilhões.
Com a reestruturação, os créditos tiveram um corte significativo, e a dívida caiu para cerca de R$ 1,5 bilhão. Até o momento, apenas R$ 100 milhões foram quitados.
Pelo plano de recuperação judicial, que ao longo dos últimos anos teve aditivos, o restante dos créditos deverão ser convertidos em debêntures, com prazo de pagamento de 25 anos. Os títulos serão remunerados a uma taxa de TR + 0,5%.
Além disso, o plano prevê a venda do ativo em um prazo de 13 anos — 15 anos contados a partir da assinatura do último aditivo, o que se deu há dois anos. Quando houver a troca de controle, os debenturistas poderão optar por receber uma parte dos recursos arrecadados com a venda ou manter o título até o vencimento.
“Hoje não tem um plano de busca de sócios. Esse tempo para vender teve o objetivo de buscar a diversificação das atividades, implementar o plano de negócios e agregar valor ao ativo para que possa ser vendido”, afirmou o presidente.
Segundo ele, com a volta dos incentivos do governo federal à indústria nacional, a Ecovix tem conseguido uma recuperação acima do esperado, com a volta de oportunidades no setor de construção naval.
Em fevereiro, a empresa firmou um contrato com a Transpetro, no valor de US$ 278 milhões (R$ 1,5 bilhão, na cotação atual) para a construção de sete navios, e já mira novas concorrências.
“O que a gente previu está se mostrando diferente da prática. Nossa previsão de receita era diversificar bastante, inclusive a atividade portuária seria a receita mais importante, mas o apoio do governo à indústria trouxe uma receita importante que não estava considerada. Então hoje a receita desse setor tem se mostrado como a principal dentro do plano, pelo menos nos próximos quatro anos”, disse Passos.
Hoje a Ecovix está se preparando para uma nova concorrência da Transpetro, que deverá licitar no fim de agosto dois contratos, para a construção de oito novas embarcações no total. Cada lote deverá ter valor entre US$ 300 milhões e US$ 400 milhões (entre R$ 1,6 bilhão e R$ 2,2 bilhão, na cotação atual).
Além disso, a Petrobras deverá licitar plataformas com uma regra de 25% de conteúdo local, e a Ecovix já tem arranjos com estaleiros internacionais para participar da disputa em parceria. A empresa também tem buscado conversas com armadores interessados em disputar licitações de afretamentos de navios offshore da petroleira.
Já no setor portuário, o plano da Ecovix é conseguir autorização para operar como Terminal de Uso Privado (TUP), com foco em construção naval e operação offshore. Hoje a empresa já tem feito movimentação portuária como um arrendamento do porto público, porém, com o fim da recuperação judicial, Passos afirma que não faz sentido que uma área privada fique dentro da poligonal do porto e sim que atue como ativo privado. Segundo ele, já está em discussão a retirada da área da poligonal do porto.
Segundo o executivo, o fim da recuperação judicial tem um peso grande junto a parceiros do setor privado. “A primeira mudança é o aspecto comercial. Ter o carimbo da recuperação judicial no CNPJ sempre traz dificuldade para obter contratos. O segundo aspecto crucial é o acesso que passa a ter ao mercado financeiro e a contratação de seguros.”
Fonte: Valor Econômico


