A GlobeNet assume o controle da infraestrutura de rede de fibra óptica para fortalecer sua atuação comercial no mercado de atacado
O conselho diretor da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) aprovou ontem a venda do controle da empresa de fibra óptica V.tal (antiga InfraCo), detido pela Oi, para GlobeNet Cabos Submarinos e outros fundos do BTG Pactual.
O processo foi relatado pelo diretor Vicente Aquino há três semanas, na última reunião do colegiado. Com pedido de vista do diretor Emmanoel Campelo, voltou à pauta ontem em rápida deliberação.
Por unanimidade dos presentes, a decisão foi tomada com apenas pequenos ajustes na proposta original do relator. A anuência prévia concedida pela agência será válida pelo prazo inicial de 180 dias, prorrogáveis por igual período, até ter a eficácia permanente, a depender do cumprimento de pequenas exigências feitas pelo comando da Anatel, como renúncia de outorgas de telefonia fixa sobrepostas e entrega de documentos.
Com a decisão, a Oi cumpre uma etapa importante de sua estratégia de sair da recuperação judicial. Logo no início do ano, a operadora já havia vendido sua operação de telefonia móvel – seu ativo mais valioso – para as concorrentes Telefônica (dona da Vivo), TIM e Claro.
A GlobeNet assume o controle da infraestrutura de rede de fibra óptica para fortalecer sua atuação comercial no mercado de atacado. A Oi, que continuará a deter uma fatia acionária, seguirá atuando no segmento de varejo comercializando banda larga fixa.
A aprovação da operação de venda da V.tal, no valor de R$ 12,9 bilhões, era aguardada desde o ano passado, quando houve negociação dentro do processo de recuperação judicial.
A GlobeNet e fundos do BTG Pactual já captaram R$ 5 bilhões dos R$ 30 bilhões que o grupo planeja investir na infraetrutura da V.tal a partir de agora até os próximos cinco anos, segundo apurou o Valor. A dívida foi feita com um consórcio de bancos – Bradesco, Santander, Citi e Safra, pela ordem de quais liberaram mais volume de empréstimo.
O total de aportes de R$ 30 bilhões foi um compromisso assumido pelos novos controladores no ano passado, condicionados à aplicação após o sinal verde dos órgãos reguladores.
Para este ano, a receita prevista da V.tal é de R$ 5 bilhões e lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês), de R$ 2 bilhões, como apurou o Valor.
As partes estão tentando acelerar o processo para que o fechamento da transação ocorra até o fim deste mês. O plano é elevar a implantação de fibra óptica das atuais 16 milhões de ‘casas passadas’ (com fibra disponível na porta) para 20 milhões no fim deste ano. Mais 12 milhões serão completadas em 2023 e 2024 e parte de 2025, totalizando 32 milhões.
A V.tal fica com 3 mil funcionários, incluindo os da GlobeNet. O Valor apurou que a diretoria da V.tal já está formada. No conselho de administração serão cinco membros indicados pelo BTG, um pelo fundo GIC, de Cingapura; e quatro da Oi.
A Oi ainda não indicou ninguém, mas acredita-se que o presidente Rodrigo Abreu será um dos nomes. Para blindar os conselheiros da Oi dos assuntos comerciais de outras operadoras clientes da V.tal foi criado um “chinese wall”. Trata-se de um comitê de neutralidade, com três conselheiros independentes.
Quatro dos dez membros do conselho são Amos Genish, presidente-executivo e do colegiado; André Esteves, Pedro Fragoso e Renato Mazzola. Genish fica na função de CEO até que se defina se ele ou outro profissional ocupará o cargo – Genish tem resistido a essa ideia, segundo fontes.
O presidente da Oi, Rodrigo Abreu, definiu ontem a aprovação da venda do controle da V.tal como “etapa fundamental” para o processo de reposicionamento de mercado do grupo. Também ontem, o executivo participou de teleconferência com analistas e investidores sobre o balanço da operadora no quarto trimestre.
A Oi registrou prejuízo líquido atribuído aos acionistas controladores de R$ 8,49 bilhões em todo o ano de 2021, recuo de 19,3% sobre 2020. A receita líquida caiu 4,5%, para R$ 17,9 bilhões. Abreu atribuiu a queda ao fechamento de operações, como previsto no plano de recuperação judicial.
Ele disse que a operadora está cumprindo os marcos para a construção de uma nova marca, com foco no fornecimento de fibra ótica e serviços para empresas.
“A empresa vai se tornar sustentável a longo prazo. Será o início de uma nova jornada. A Oi ficará muito mais enxuta”, afirmou Abreu. “As receitas de fibra representam 17% da receita total da empresa e 29% das operações continuadas. A fibra está compensando a queda nos serviços legados”, acrescentou.
Fonte: Valor Econômico