Por Rodrigo Polito
Um dia após a conclusão da venda da totalidade da participação da Light na Renova Energia, e a consequente saída da elétrica fluminense do bloco de controle da empresa, a geradora renovável apresentou na madrugada de ontem pedido de recuperação judicial. A companhia declarou dívidas da ordem de R$ 3,1 bilhões.
Desse total, segundo a Renova, R$ 11,7 milhões são dívidas trabalhistas, R$ 834 milhões correspondem a débitos “intercompany” e “expressivos R$ 980 milhões” a débitos com seus atuais acionistas.
Na petição do pedido de proteção judicial contra execução de dívidas, a Renova Energia creditou a crise financeira à não conclusão do parque eólico de Alto Sertão III, no interior da Bahia. “Ocorre que, por diversas dificuldades de caixa enfrentadas pelo grupo Renova, e mesmo diante de sucessivos aportes e adiantamentos dos contratos de energia realizados por acionistas, ainda não foi possível concluir o projeto, que se encontra paralisado desde 2016, especialmente porque os recursos originalmente destinados à finalização do projeto acabaram sendo consumidos em grande maioria pelos juros e amortizações das dívidas”, alegou a empresa no documento.
Em consequência do atraso no projeto, a Renova foi obrigada a cumprir suas obrigações de fornecimento de energia por meio da compra no mercado spot (à vista). “Tal necessidade de compra tem contribuído definitivamente para o endividamento do grupo, ressaltando-se que, apenas em 2018, a despesa com tal compra de energia somou R$ 815 milhões”.
A geradora tentou vender o projeto, com 85% concluído, à AES Tietê. As negociações, porém, foram encerradas na última semana. “Tal fato, aliado à incapacidade do grupo de suportar custos e condições da prorrogação do vencimento do contrato de financiamento do empréstimo de curto prazo com o BNDES para o projeto Alto Sertão III, deixou o grupo Renova sem alternativa que não se socorrer do pedido de recuperação judicial”.
A Renova indica como saída para a crise financeira as participações do grupo em dois projetos de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs). O primeiro, via Brasil PCH, dona de 13 usinas, já distribuiu R$ 86 milhões de dividendos à companhia neste ano. O outro, denominado Energética Serra da Prata, formado por três PCHs, gera em média R$ 20 milhões em dividendos por ano.
A Renova ressalta ainda a capacidade de geração de resultado de até R$ 200 milhões por ano de Alto Sertão III, quando concluído, além da própria possibilidade de venda do ativo. “O grupo recentemente já obteve propostas de compra do parque por até R$ 1,35 bilhão”, acrescentou a companhia.
Como esperado, o mercado reagiu mal ao pedido de recuperação judicial. As units – papéis mais líquidos da empresa – recuaram 20,68% no pregão de ontem da B3, cotados R$ 11,74.
Conforme o Valor informou na segunda-feira, com o fim das negociações com a AES Tietê por Alto Sertão III e o agravamento da situação da Renova, a Light iniciou conversas com os sócios-fundadores da empresa para venda de sua participação na geradora. O negócio, firmado pelo valor simbólico de R$ 1, foi concluído na terça-feira.
Com o negócio, o bloco de controle passou a ter a seguinte composição: CG I Fundo de Investimento em Participações Multiestratégia, dos sócios-fundadores, (null,23%) e Cemig (null,23%).
Segundo uma fonte, porém, a transação pode gerar um questionamento à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) sobre a atuação da Light no caso. Isso porque, de acordo com ela, a elétrica fluminense já tinha conhecimento de que a Renova entraria com pedido de recuperação judicial. Até o momento, não há informação de queixa protocolada na autarquia.
Fonte: Valor Econômico