Por Graziella Valenti e Camila Souza Ramos
A companhia de açúcar e álcool do Grupo Odebrecht, Atvos, entregou na noite desta terça-feira, na 1ª Vara de Falências de São Paulo, sua proposta de plano de recuperação judicial. Com dívidas totais de R$ 15 bilhões, a companhia entrou com pedido de proteção contra os credores em 29 de maio. Do total listado, R$ 10,5 bilhões são dívidas financeiras com terceiros, pois R$ 3,9 bilhões são compromissos com empresas do próprio grupo e R$ 350 milhões são com fornecedores.
O plano da empresa levado à Justiça resulta em um corte de 46% da dívida financeira total, pois o total devido deve ser reduzido para R$ 5,7 bilhões.
A Atvos possui nove usinas que têm capacidade de processar até 37 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por safra. Essa estrutura a coloca como a segunda maior empresa sucroalcooleira do país em termos de capacidade instalada, atrás apenas da Raízen – joint venture entre Cosan e Shell. Das nove usinas da companhia, sete estão no Centro-Oeste e as outras duas, em São Paulo.
Porém, suas unidades têm operado com ociosidade de 27% e, na safra passada (2018/19), foi a terceira em moagem de cana, atrás da Biosev. No último exercício, sua receita ficou em R$ 4,3 bilhões, praticamente estável ante o ciclo anterior, enquanto seu Ebitda caiu 5%, para R$ 1,5 bilhão.
Há, entre os compromissos listados na recuperação judicial, R$ 3,4 bilhões de dívidas extraconcursais — que não ficam sujeitas à renegociação e, portanto, não votam na assembleia de credores. Nos documentos entregues ao juiz do processo, João de Oliveira Rodrigues Filho, a companhia afirma que está em conversas privadas com os detentores dessas dívidas em busca de condições melhores.
O que a Atvos planeja é conseguir um corte de 35% para as dívidas com garantia real, que somam pouco menos de R$ 1 bilhão, e de 75% para a dívida quirografária (sem garantia), de R$ 6,7 bilhões. Com essas reduções, os valores cairiam, respectivamente, para R$ 623 milhões e R$ 1,67 bilhão. Não há previsão de corte para os compromissos extraconcursais.
As dívidas novas remanescentes teriam como custo 115% do CDI, carência de amortização de principal de cinco anos e de pagamento de juros de três. Os juros começariam a incidir logo após homologação do plano, porém, no lugar de serem pagos, passariam a ser capitalizados ao principal (acruados). O pagamento do juros seriam pagos em 48 parcelas trimestrais a partir do 4º ano e a amortização do principal seria 40 parcelas trimestrais sucessivas, a partir do 6º anos — o que resulta em um prazo total de 15 anos.
As dívidas cortadas, segundo o plano, serão pagas “mediante o recebimento de título de dívida ou de participação a ser emitido” — sem prazo de quitação – que terão direito a 70% de toda a distribuição de recursos.
O planejamento desenhado para a Atvos também prevê que durante os três primeiros anos um total acumulado de R$ 100 milhões poderá ser pago aos controladores, ou seja, ao sistema Odebrecht. Esses recursos servirão à holding e seus credores.
Fonte: Valor Econômico