Por Marina Salles e Luiz Henrique Mendes
Às vésperas da assembleia geral de credores, a Fertilizantes Heringer apresentou um novo plano de recuperação judicial. Com a oferta de US$ 115 milhões feita pelas russas Uralkali e Uralchem na manga, a empresa brasileira ofereceu condições mais favoráveis aos credores e sinalizou que não precisará vender ativos para pagar dívidas. A oferta russa pelo controle da Heringer está condicionada à aprovação do plano.
No plano de recuperação original, apresentado em abril, a Heringer propôs pagar somente 20% das dívidas com os credores quirografários, classe que tem R$ 1,5 bilhão a receber – cerca de 80% da dívida total. Agora, esses credores poderão receber pelo menos 60% do total.
O plano original previa, ainda, a venda de sete misturadoras de fertilizantes, com as quais a Heringer estimava angariar R$ 315 milhões. No novo plano, divulgado na sexta-feira, a Heringer mudou o tom ao tratar da possível venda de ativos, o que já dialoga com a possível venda do controle da empresa aos russos. Se Uralkali e Uralchem injetarem capital na companhia, vender ativos pode não fazer sentido.
Pelos termos da nova proposta, a empresa informou que “poderá promover” a venda de seis misturadoras -a de Uberaba (MG), que constava da primeira proposta, já foi retirada da lista. No plano de abril, a companhia era mais taxativa, ao dizer que “promoverá a constituição e disponibilização para a alienação” das sete misturadoras.
Outra novidade do plano de recuperação apresentado na sexta-feira é a possibilidade do pagamento antecipado de parte das dívidas, caso um “evento de liquidez” ocorra, o que pode se dar com o aumento de capital proposto pelos grupos russos.
A Heringer ofereceu aos credores quirografários duas opções de recebimento do que é devido, sendo que uma delas prevê o pagamento da dívida apenas em 2040.
Ao que tudo indica, a proposta que tende a ter maior adesão dos quirografários prevê a quitação de até 100% da dívida, a partir de dois fluxos de pagamentos (denominados “tranche A” e “tranche B”, equivalendo a 50% cada). A primeira metade da dívida teria carência inicial de três anos e parcelas anuais até 2034. A segunda metade, carência de cinco anos, e parcelas anuais que vão até 2045.
Mas as dívidas parceladas até 2045 poderão ser pagas, com deságio, antecipadamente. Essa opção (prevista para a “tranche B”) é válida na hipótese de um evento de liquidez, o que está no radar com a oferta russa. Considerando que a companhia exerça essa opção, os credores receberiam de 20,7% a 69,7% da segunda metade, a depender do ano no qual a Heringer tiver o evento de liquidez.
Para a classe dos credores com garantia real, com R$ 286,9 milhões em dívidas a receber, a Heringer propôs duas modalidades de pagamento, uma delas com quitação de 100% do valor devido, mas com carência de três anos e depósitos anuais em 10 anos. Nessa mesma modalidade, em caso de evento de liquidez, o valor pago seria de 68,5% da dívida em 2020, com ampliação para até 71,1% em 2029.
No plano anterior, a companhia havia se comprometido a pagar 60% dos débitos com os credores com garantia real. Assim, também houve melhora das condições.
A assembleia que avaliará a proposta está marcada para quarta-feira. Se não houver quórum, o encontro ficará para 7 de novembro.
Fonte: Valor Econômico