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Gol consegue aval de tribunal dos EUA para empréstimo

Incertezas sobre diluição de acionistas minoritários e corte de nota de crédito levam ações ao menor patamar desde dezembro de 2016

A Gol recebeu aval da Justiça americana para a liberação de um empréstimo US$ 350 milhões garantido por debenturistas da Abra, holding da companhia. Os recursos são importante para manter a operação da empresa, mas ainda há dúvidas no mercado sobre como serão conduzidas as negociações da companhia com os arrendadores de aeronaves, assim como será a eventual diluição dos acionistas minoritários. Diante das incertezas, as ações da Gol derreteram ontem na bolsa, registrando queda de 33,6%, negociada a R$ 3,93 – o menor patamar de preço desde dezembro de 2016.

Os papéis da empresa foram também pressionados pelo corte do preço-alvo das ações pelos bancos BB e Bradesco e pelas agências de rating Fitch e S&P Global, que reduziram as notas de crédito da companhia. As ações da companhia serão retiradas dos índices da B3, após o fim do pregão de hoje. A Gol segue negociada normalmente na bolsa, mas passa a ser listada sob o título de “outras condições” a partir do pregão de 30 de janeiro.

A primeira fase do DIP (Debtor In Possession, na sigla em inglês), financiamento a empresas em recuperação judicial, já está disponível para a Gol. Esse valor faz parte da primeira parcela liberada à companhia, que receberá outros US$ 600 milhões – divididos em duas etapas em condições que serão estabelecidas dentro do processo de reestruturação da empresa.

“A autorização do Tribunal dos Estados Unidos para acesso a novos financiamentos permitirá à Gol continuar operando normalmente”, disse o presidente Celso Ferrer, em nota. A empresa informou que pretende honrar os compromissos com parceiros de negócios e fornecedores de bens e serviços prestados a partir da data de início do processo de recuperação em 25 de janeiro, além do pagamento de salários aos colaboradores.

A dívida total da companhia aérea até dezembro passado é de US$ 8,3 bilhões (ou cerca de R$ 40 bilhões) – que inclui contas ainda não vencidas. Em fato relevante, a Gol acrescentou que o endividamento considerando empréstimos e financiamentos ao fim do quarto trimestre totaliza R$ 20,2 bilhões. Do total das despesas, US$ 2,7 bilhões vencem em 12 meses. Entre as pendências no curto prazo estão US$ 647 milhões com viagens a serem realizadas e US$ 359 milhões com arrendadores de aeronaves.

Pagamentos a parceiros e salários vão ser honrados com recurso liberado por tribunal de NY

As negociações com arrendadores são motivo de atenção – há falta de aviões no mercado e o risco de eles retirarem as aeronaves da Gol é maior do que na época do Chapter 11 da Latam e da Avianca, durante a pandemia.

A Aviation Working Group (AWG), entidade que agrupa fabricantes de aviões e empresas de arrendamento, voltou a destacar ontem sua visão de que o período em que arrendadores podem começar a buscar aviões da Gol se encerra no dia 24 de fevereiro. Pela legislação dos Estados Unidos, o prazo é de 120 dias a partir do início do trâmite (dia 25 de janeiro). Mas a AWG defende que o prazo que deve ser considerado é de 30 dias, seguindo a Convenção da Cidade do Cabo, que o Brasil faz parte.

Há ainda uma preocupação no mercado de que os minoritários podem ser prejudicados diante de uma forte diluição. Em relatório, a equipe do BB Investimento disse que eles podem ter uma diluição acima de 60% das suas participações em um cenário em que a controladora Abra resolva converter seus US$ 1,2 bilhão em títulos de dívida da aérea – a conversão de dívidas é apontada como saída mais provável.

O Bradesco foi ainda mais duro, apontando que o saldo de aproximadamente R$ 25 bilhões em reestruturação pode causar uma diluição dos minoritários de até 99%.

A futura composição acionária da Gol também tem levantado atenção. De um lado, há margem para uma disputa pelo controle do grupo, hoje na mão da Abra com cerca de 53% das ações. Na Latam, os principais acionistas antes do Chapter 11 eram são a família Cueto, a Qatar Airways e a Delta Air Lines, que detinham cerca de 46% do capital e foram diluídos para 25%.

Fonte: Valor Econômico


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