A empresa tornou-se, com isso, a mais recente varejista a ser arruinada pela paralisação da economia determinada pelo novo coronavírus
A Neiman Marcus, a luxuosa rede de lojas de departamentos que começou trazendo a alta moda para o centro de Dallas em 1907, pediu recuperação judicial. A empresa tornou-se, com isso, a mais recente varejista a ser arruinada pela paralisação da economia determinada pelo novo coronavírus.
A empresa, controlada por uma empresa de “private equity”, cambaleou por anos com um pesado endividamento, vinha tentando competir na era do comércio eletrônico e finalmente sucumbiu após a suspensão das atividades comerciais nas últimas semanas.
O pedido de recuperação judicial, que ocorre apenas três dias após a falência da J Crew, é o mais recente sinal de que as restrições voltadas para o controle da pandemia estão acelerando o desaparecimento de empresas que já enfrentavam dificuldades.
Em comunicado, seu executivo-chefe, Geoffroy van Raemdonck, sustentou que a Neiman Marcus vinha fazendo “avanços sólidos” em se adaptar à ascensão das compras on-line, mas que a covid-19 teria exercido “pressão inexorável” sobre a companhia.
Ele disse que a varejista sairá em uma posição mais sólida da proteção judicial, que ela pretende usar para eliminar US$ 4 bilhões em dívidas.
Os credores se comprometeram a entrar com um crédito de US$ 1,43 bilhão para ajudar a empresa durante o processo de reestruturação e seu período subsequente, e se tornariam seus proprietários majoritários, disse a empresa. Detentores de dois terços de sua dívida estavam apoiando o acordo.
No entanto, o pedido protocolado no Tribunal de Falências dos Estados Unidos para o Distrito Sul do Texas também deixa o caminho aberto para uma venda. A Hudson’s Bay Company, dona da cadeia de lojas de departamento de luxo Saks Fifth Avenue, manifestou interesse em adquirir a companhia, de acordo com pessoas a par da questão.
O pedido de recuperação judicial da Neiman põe ainda mais em dúvida o futuro de 14 mil funcionários, muitos dos quais já estão sob licença temporária.
A reestruturação também lança uma sombra sobre o mercado imobiliário para o varejo em várias cidades dos EUA. Entre os lugares ocupados pela cadeia estão Beverly Hills, Boca Raton e o complexo Hudson Yards de Nova York, onde a empresa inaugurou espetacularmente, no ano passado, uma loja de 17.466 metros quadrados, que apresenta, entre outras coisas, um laboratório modelador de sobrancelhas, provadores digitais e um restaurante fino.
Além das lojas que levam seu nome, o grupo controla a loja de departamentos de luxo Bergdorf Goodman, com sede na Quinta Avenida, em Manhattan. As lojas sofisticadas localizadas no principal distrito de compras de Nova York e em torno dele, incluindo a Henri Bendel, já fecharam nos últimos meses. A Barneys New York pediu recuperação judicial no ano passado.
Legado
A história da Neiman Marcus remonta à época em que Dallas ainda era a cidade do gado e do algodão. Herbert Marcus, sua irmã Carrie Marcus Neiman e seu marido Al Neiman abriram uma loja de tecidos femininos que ficou famosa por sua decoração exuberante e a cortesia de seu atendimento.
Senhoras elegantes da sociedade local frequentaram a varejista durante o “boom” do petróleo do Estado do Texas, e as elites de Dallas, a capital do Estado, a conheciam simplesmente como “a loja”.
Catálogos anuais de Natal mostravam presentes exóticos “para ele e para ela”. Entre os itens encontravam-se, nos últimos anos, um submarino, um show particular de Elton John e um telefone celular de US$ 73.000 adornado com diamantes e ouro 18 quilates.
A família fundadora da varejista vendeu tudo na década de 1980, e a Neiman ficou, posteriormente, sobrecarregada com dívidas em uma compra alavancada, em 2005, pela TPG e a Warburg Pincus e na venda, subsequente, em 2013, para a Ares e o Canada Pension Plan Investment Board.
A Neiman Marcus é o mais recente acréscimo à lista de recuperações judiciais de empresas de varejo respaldadas por private equity, que inclui a Toys R Us, a Gymboree e a Payless ShoeSource, além da J Crew.
A exemplo de outras varejistas de roupas e redes de lojas de departamento, a Neiman Marcus foi prejudicada pela ascensão do comércio eletrônico, enquanto a escala de suas dívidas minou sua capacidade de concorrer com especialistas “on-line” como a Yoox Net-a-Porter e a Farfetch.
O coronavírus está agravando as pressões estruturais no setor de varejo, que são especialmente fortes no caso das lojas de departamento. A JCPenney deixou de fazer um pagamento de juros aos detentores de bônus no mês passado, enquanto a Macy’s também disse que está sondando alternativas a fim de fortalecer sua estrutura de capital.
Fonte: Valor Econômico