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EM CRISE, ESSER PEDE RECUPERAÇÃO JUDICIAL

Incorporadora entrou, ontem à noite, com pedido na 1ª vara de Falências e Recuperação Judicial de São Paulo, informando uma dívida de R$ 590 milhões

 

A construtora e incorporadora Esser entrou, ontem à noite, com pedido de recuperação judicial (RJ) na 1ª vara de Falências e Recuperação Judicial de São Paulo. Com dívida de R$ 590,4 milhões, a empresa foi fundada em São Paulo pelos irmãos Alain e Raphael Horn, sobrinhos do empresário do mercado imobiliário Elie Horn – controlador da segunda maior incorporadora de imóveis do país, a Cyrela.

Alain e Raphael se mantêm como controladores da companhia, que vinha demonstrando dificuldades financeiras nos últimos quatro anos e, já cambaleante, chegou sem fôlego à crise da covid-19. Há dois dias, outra conhecida incorporadora, a João Fortes Engenharia, entrou com ação de proteção contra credores na comarca do Rio de Janeiro.

Com uma dívida de quase R$ 600 milhões, incorporadora chegou sem fôlego à crise causada pela covid-19

O pedido de recuperação judicial da Esser inclui a holding e mais 63 empresas – somando subsidiárias e sociedades de propósito específico (SPEs) criadas para cada empreendimento.

Nos últimos anos, compradores de imóveis já reclamavam na Justiça de atraso extenso nas obras da incorporadora e credores haviam pedido de falência da Esser Alaska, uma das controladas Além disso, no ano passado, a companhia passou a ser questionada por investidores que compraram seus Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs), títulos que teriam como lastros imóveis que não estavam desembaraçados judicialmente.

No documento de pedido de recuperação, a Esser afirma que suas dificuldades começaram na recessão econômica brasileira, citando o período de 2014 a 2017 como negativos para o mercado imobiliário. Na empresa, o impacto foi uma “avalanche de distratos no período”. A queda no PIB da construção já levou outras companhias ao mesmo caminho desde a recessão, como Viver, Grupo Thá, Via Engenharia e Planc. No segmento residencial, a maior e mais ruidosa foi a da incorporadora PDG, em 2017, com dívidas de R$ 7,7 bilhões.

Quando estourou a pandemia, a Esser tentava uma renegociação com credores e obtenção de capital novo, segundo uma pessoa próxima à empresa. A crise atual renovou projeções negativas para o mercado imobiliário. A empresa argumenta à Justiça que precisa de fôlego para tocar 11 empreendimentos em fase de projeto, essenciais para voltar a ter geração de caixa.

O sobrenome dos fundadores e alguns compradores famosos ajudaram a atrair ainda mais pessoas físicas para os estandes de imóveis da Esser. Os apresentadores de TV Milton Neves, Sabrina Sato e o falecido Gugu Liberato, por exemplo, tinham apartamentos da Esser como investimento, para revenda – mas não foram entregues. Neves foi garoto-propaganda da empresa na campanha “A Hora é Esser”.

A maioria dos famosos já não consta na lista de credores na RJ. Parte deles acabou vendendo os créditos, com desconto, para fundos especializados em retomada de títulos com credores inadimplentes, os chamados ‘distressed’, apurou o Valor.

A lista de credores da incorporadora é concentrada nos chamados quirografários – menos de 1% da dívida é trabalhista. Um volume relevante entre a dívida quirografária se refere a indenizações devidas a compradores de imóveis. Há ainda uma porção de fornecedores de revestimentos cerâmicos, locação de equipamentos, instalações elétricas e hidráulicas.

Entre os bancos, o maior montante de dinheiro devido é ao Banco do Brasil. O empresário Zeev Horovitz é o único que consta na lista de credores como investidor, com cerca de R$ 23 milhões a receber da Esser.

Pessoas próximas aos irmãos Alain e Raphael dizem que eles já perderam boa parte do patrimônio pessoal. “O Raphael está com a mensalidade escolar dos filhos atrasada por falta de liquidez”, afirma um amigo. O problema financeiro da incorporadora também teria causado constrangimentos na comunidade judaica, compradora de imóveis da família, que tomou o sobrenome como referência de segurança no investimento.

A Esser foi fundada há 25 anos como uma corretora imobiliária e depois passou à incorporação e construção, tendo iniciado essa atividade com foco no segmento residencial de alto padrão – classes A e B.

 

Fonte: Valor Econômico

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