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CULTURA E SARAIVA PROPÕEM CONDIÇÕES MAIS DURAS A CREDOR

Redes sentem efeito da crise; Cultura oferece deságio de até 80% sobre valor já descontado em plano

 

A situação da Livraria Cultura e da Saraiva piorou nos últimos meses, após o fechamento temporário de suas lojas, obrigando as redes a definir novas propostas aos credores para tentar salvar seus negócios. Ambas estão em recuperação judicial. A Cultura está apresentando, em reuniões virtuais nos últimos dias, proposta com deságio de até 80% em cima do deságio do plano anterior, homologado em 2019.

Saraiva e Cultura informaram em abril e maio, respectivamente, serem incapazes de seguir com as condições dos planos de recuperação aprovados por causa da crise gerada pela pandemia. A Cultura segue com 8 de suas 15 lojas fechadas e a Saraiva tem apenas 4 pontos abertos, entre as 70 lojas, além de ambas operarem os seus sites, apurou o Valor.

No caso da Saraiva, a rede desenha uma nova proposta a ser apresentada em julho aos credores, enquanto perde importantes membros de seu conselho de administração (ver ao lado). A família controladora, liderada no colegiado por Jorge Saraiva Neto, tem quase 66% da empresa. O Valor apurou que a nova proposta da varejista terá aumento de carência e de descontos na dívida às editoras.

Na Cultura, as novas condições oferecidas – e que serão submetidas à assembleia geral – aumentam os descontos para todos os fornecedores e locadores de pontos, menos para os bancos. A dívida total da rede controlada pela família Herz soma R$ 285 milhões.

Para fornecedores classificados como “incentivadores 1”, como editoras de livros, a rede propõe um deságio de 80% na dívida sobre valor já descontado em 25% no plano homologado pela Justiça em abril de 2019. Neste grupo estão editorias que mantiveram entregas à rede até 60 dias após a homologação do plano. Os débitos devem ser pagos em 30 parcelas trimestrais (antes eram 48), com carência de 30 meses (eram 24).

“No mundo das finanças, existe juros sobre juros, e no mundo das livrarias, criamos o deságio sobre o deságio. Nós entendemos o momento, mas é algo difícil de engolir. E as editoras já acharam novo caminho para essa crise do setor que se chama Amazon. As coisas mudaram e não se depende mais tanto da Cultura ou da Saraiva hoje”, diz o diretor de uma editora média de São Paulo.

Aos chamados “fornecedores incentivadores 2”, que incluem outro grupo de editoras com créditos sem garantia e que não pararam de fornecer à rede no fim de 2018, é oferecido deságio de 70% sobre a dívida. No plano anterior, não havia desconto para esse grupo. O prazo dos parcelamentos trimestrais é menor, 21 vezes (eram 48), mantendo a carência de dois anos.

Para os donos de imóveis (como shoppings e locadores de lojas de rua que mantiveram contrato de locação após decretação da recuperação judicial), o deságio oferecido é de 80% em cima dos 30% de desconto do plano anterior. O número de parcelas trimestrais sobe de 20 para 30, e a carência de um ano passa para dois anos e meio. “Há locadores que não contam mais com a entrada desses recursos, tanto da Cultura, quanto da Saraiva”, diz um credor que esteve numa reunião virtual da Cultura.

Para os bancos porém, chamados no plano de “financeiros estratégicos”, não houve mudanças nas condições da Cultura, mesmo com a crise gerada pela pandemia. “A informação que temos é que os bancos privados não estão liberando linhas novas. Mas não estão executando as antigas. Se ampliasse o ágio, talvez essa situação piorasse”, acrescenta o credor.

Os bancos que estão no grupo dos sem garantia de créditos (mas suspenderam cobranças passadas na Justiça) continuam com deságio de 30%. As instituições com crédito garantido, mas que liberaram recebíveis para a rede desde que entrou em recuperação, continuaram sem qualquer deságio em suas dívidas. A versão da nova proposta foi concluída no dia 3.

A companhia mencionou, nas reuniões com credores, a possibilidade de fechar mais lojas caso acordos de renegociação de locação não sejam concluídos. Ainda relatou que as 7 unidades que reabriram as portas após março, faturam 30% do previsto pela rede.

A empresa voltou a falar que pode vender uma participação do negócio a potenciais interessados, sem mencionar detalhes. Procurada, a empresa não se manifestou.

Fonte: Valor Econômico

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