Dívidas da companhia somam R$ 170 milhões; justiça acatou o pedido da empresa no último dia 10 de março
A seca que levou à quebra da colheita de grãos na safra 2020/21 em Mato Grosso do Sul desequilibrou as finanças da AGM Trade e levou a empresa, que atua na compra e venda de soja e milho em São Gabriel do Oeste, no centro-norte do Estado, a entrar com pedido de recuperação judicial. Por causa da estiagem, os agricultores não entregaram todo o volume de grãos prometido à companhia, que acumula dívidas de R$ 170 milhões. A justiça de Mato Grosso do Sul acatou a solicitação da empresa no último dia 10 de março.
A seca reduziu em 11% a produção de grãos em Mato Grosso do Sul no ciclo 2020/21. A quebra foi ainda maior nas lavouras de milho segunda safra – a produção da cultura diminuiu 27% naquela temporada, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A companhia alega que, ao receber menos grãos, ela acabou não conseguindo cumprir seus contratos de venda.
“Os problemas começaram com a safrinha do milho em 2021. Nós tínhamos firmado contratos com as indústrias para a entrega de 80 mil toneladas, mas, com a quebra da produção recebemos menos de 30% desse volume”, comenta Alexandre Magalhães, um dos sócios da AGM.
Sem produto disponível para cumprir seus compromissos, relata Magalhães, a companhia precisou recorrer ao “washout”, o rompimento dos contratos de compra e venda de grãos. Nesses casos, muito comuns em momentos de choque de oferta, a trading que não recebe os grãos tem de comprar a produção de outras origens, pagando a diferença sobre o que havia sido acertado anteriormente. No caso da AGM, o preço da saca de milho tinha sido fixado em R$ 60 no momento da compra, mas, na entrega, o valor chegou a R$ 90.
Em 2020, antes da quebra de safra, a AGM teve lucro de R$ 5,3 milhões, mas, no ano seguinte, sob o impacto dos problemas climáticos, a companhia registrou prejuízo de R$ 30,7 milhões. Já o faturamento caiu para pouco mais de R$ 400 milhões em 2021.
Os bancos ABC e Santander, além de diversos produtores de soja e milho, estão entre os principais credores da empresa. Segundo Magalhães, os problemas da companhia se agravaram porque ela também deixou de receber de pagamentos de alguns clientes.
“Muitas empresas não pagaram seus débitos com a AGM. São esmagadoras e cooperativas que também entraram em recuperação judicial ou decretaram falência. Em um dos casos, deixamos de receber R$ 10 milhões”, conta o empresário. “Esses sucessivos problemas financeiros atrapalharam o nosso fluxo de caixa”.
Fonte: Valor Econômico